sábado, 19 de fevereiro de 2011

Pesadelo

 Rezei minhas orações noturnas e mesmo não sendo um homem religioso, acreditava no poder delas. Era uma noite abafada e estava cansando, mesmo não tendo feito nada. Acho que este cansaço era na verdade, vontade. Vontade de uma vida melhor e foi com esse pensamento que adormeci sob as estrelas. Acordei assustado, soando frio e o nada preenchia tudo a minha volta. Levantei, vagarosamente, tentando entender o que estava acontecendo e não conseguia chegar a uma conclusão. Nada fazia sentido, não compreendia o nada. Comecei a me sentir, talvez pela primeira vez, assustado. Desde pequeno conheço o significado de perda, então fiquei imune ao medo. Mas agora era diferente, estava apavorado e instintivamente comecei a correr o mais rápido que conseguia, estava aterrorizado. Todos meus pesadelos me perseguiam em um mesmo sonho, estava caindo num abismo. Perda, dor, solidão. Tudo intensificado. Queria acordar. Mas como acordar da realidade?                                       

Dor

Dor que não possuía explicação. Não sabia o que sentia, era ruim e me machucava. Tirava-me o sono todas as noites me enchendo de solidão e amargura. Penetrava minha alma e consumia todas minhas energias. Não queria mais sentir aquilo, estava sendo torturado por mim mesmo. Bebidas e maços de cigarro me distraiam, mas não era o bastante e foi justamente em umas destas melancólicas noites que pensei em tirar minha vida. O conhaque que bebia queimava minha garganta e esquentava meu coração quase morto. Comecei a dançar ao som da chuva, chovia pela primeira vez naquele ano e isso me motivava, gostava do dramático. Sentei-me na cadeira na qual meu pai falecera anos atrás e fiquei absorto em meus sombrios pensamentos durante horas até que cheguei à conclusão de que viver não valia à pena. Remédios conseguem sim curar a dor da vida, agora estava em completa paz.

Perdido, solitário e cheio de sonhos

Era uma tarde ensolarada, ardente e propicia para atividades ao ar livre. Finalmente tinha um motivo para sair daquela casa, motivo que desde que me lembro, nunca tive. Tomei um banho gelado, me vesti com peças de roupas claras, coloquei meu melhor tênis e sai assoviando. Sentia-me estranho, fora do comum, nunca agia de tal forma. Mas como disse, existia um motivo. Existia ela e o feitiço que exercia sobre mim, algo surreal. Talvez fosse seus cabelos longos e loiros, ou sua voz suave e angelical, ou até mesmo a perfeita simetria de seu corpo. Seja o quer for, me agradava e queria me entregar por completo a aquela mulher, cujo nome não sabia. Não havia pensando aonde ir, queria seguir minha intuição, queria que me levasse até ela. Caminhei bastante, sem rumo e meus músculos doíam, mas a minha vontade de chegar até algum lugar era maior. Perdia a noção do tempo e percebi o sol esta se pondo de uma forma maravilhosa, acho que nunca parei para reparar a magia do universo e depois de longos minutos, reparando o adeus da luz, percebi que estava perdido, solitário e cheio de sonhos.

Manchas

O tempo estava agradável, frio como gosto. O cheiro de fumaça e mofo impregnava as paredes daquele quarto. Ela entrou, sabia o que estava prestes a dizer. Ao invés de palavras saírem de sua boca, lágrimas saíram de seus olhos. Sem porquês, chorei ao som de seus soluços. Não consigo perdoar, talvez porque sou desprovido de sentimentos e como já me disseram, possuo “coração de pedra”. Para mim aquelas lágrimas eram de arrependimento falso e a raiva dominou cada célula do meu corpo, e nesse momento ela percebeu que em minhas mãos estava uma faca. Ela implorou, ajoelhada aos meus pés pelo meu perdão. Esse gesto provara o quanto ela não me conhecia. Nesse instante, dominado pela fúria, enfiei a afiada faca em seu peito, até encostar seu coração. Minha menina, minha vida estava morta diante de mim. Sentia-me orgulhoso. Mentiras são agora, pequenas manchas de sangue espalhadas em minha memória.