segunda-feira, 18 de abril de 2011

Luisa

O real se entrelaçava com suas vontades, e suas vontades se dispersavam em meio à realidade, e ela sabia que estava perdida; sozinha dentro de si mesma.  Era como não – estar, sua presença ignorada dentro de um todo. Luisa era assim, queria saber de seus segredos. Desconhecida de si mesma, era uma reserva de desejos dissipados. Queria sair voando, esconder entres nuvens até que trovões provocassem sua volta. Sim, Luisa era fugaz com suas palavras sabor saudade, sabor querer. Sabor saudade? Sim. Saudades.

domingo, 27 de março de 2011

Amo-te 2

Ela morrera. Eu estou preste. Vestia-me de preto, por sinal de respeito. Via rostos de pessoas quais os nomes nem sabia, pessoas que a conheciam vagamente. Desgraçados, pensava. Queria sair daquele lugar e gritar para ao além me ouvir. Era apenas um corpo morto e sem alma pelo que todos choravam. Sai, sem dizer uma palavra. Viajei até chegar à praia na qual disse que a amava pela primeira fez. E por meses não me sentia bem, porém deitado na areia olhando o mesmo céu que selara nosso amor e ouvira nossas confissões chorei todas as lágrimas possíveis e senti-me aliviado. Tudo que queria era estar ao lado dela. O oceano parecia-me um caminho. Com a lembrança dela em meus pensamentos caminhei adentro mar, até meus pés não conseguirei encostar a areia. Afoguei-me. Lembro-me apenas do quão miserável e infeliz era. Não mais, aqui o amor é infinito. 

sábado, 26 de março de 2011

Engano-me, sou feliz.

A rua estava deserta, era tarde e meus passos rápidos eram a única coisa que ouvia. Ou queria ouvir. Era uma típica madrugada, e a embriaguez calava-me. Minha visão estava embaçada e turva, mas tinha certeza do que vira. Ao fim da rua, a beleza prostituía-se. Tão bela e tão estúpida. Reparando-a, sentia uma vontade incontrolável de comprar o prazer que dera voz aos meus pensamentos. Daria todo meu dinheiro para sentir, ter, amá-la. E assim comprei minha felicidade. Mesmo vivendo uma mentira. Ela me trai e não me ama, mas preenche o vazio dentro de mim e isso me basta. Morrerei sozinho, tenho certeza. Mas agora não estou solitário. Engano-me, pois sou feliz.

Adeus, Sombra.

Minha sombra não projeta mais minhas ações, ela possui vida própria, vaga por si só. Confesso que sinto falta de vê-la sempre junta de mim, sinto falta de rir. Ainda tento compreender o porquê de ela ter decidido partir, culpo-me até, por não encontrar explicações. Mas não sou homem rancoroso, espero que ela encontre outro, outra, que queira compartilhar sua sutileza. Espero que minha sombra, perdida, arrependa-se talvez e decida voltar para junto de mim, que sempre a amarei. Quero-te minha sombra, devolva minha vida ou me dê uma razão para viver. Não demore, porque irei substituí-la, porque preciso de alguém.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Amo-te

Nunca me esquecerei do dia que estávamos sentados, nos dois, naquela praia admirando o mar e dividindo o silêncio. Nunca fomos muito de conversar, sabíamos disso. Vivenciávamos aquele calar, e fui contido pela felicidade. Tanta, que até percebi minha face ser meramente desenhada por linhas tortas, eram minhas lágrimas. Lembro-me de segurar tua mão e dizer desejando o infinito: Não me abandone jamais. Estava escurecendo, e deitamos naquela areia, ouvindo o respirar um do outro. Olhei nos teus olhos negros, acariciei teu rosto e lhe disse que a amava. Sabia que isso era o bastante para ti. Quero que saiba, nunca menti. Ainda te amo, ainda quero-te a todo instante. Ainda quero, beijar teus lábios.  Envelhecer, sabendo que a mulher que amo, me ama e está junto de mim. Mas agora, tu não me vês e não me ouves. Acredito, tenho certeza que tu sabes o tanto que sofro de ver-te nesta cama, sabendo que a morte pode lhe levar a qualquer instante. Maldito pensamento que me deixa insano, como conseguirei viver fingindo que sou feliz? Não conseguirei. Minha felicidade és tu, e rezo que ocorra um milagre. Que a morte não te leve, que Deus decida te deixar viver.  Passei incontáveis noites no chão desse hospital, vivendo a dor e a tristeza de todos que vivenciam a perda. E penso que amanhã serei eu a sofrer, e choro. Estes aparelhos são as únicas coisas que fazem teu coração pulsar e fé é a única coisa que me resta e faz-me acreditar em esperança. Passarei todos os dias de minha vida, neste hospital, ao teu lado. Amando-a, sempre. Daria minha vida, para tu que possuístes uma, meu amor. Encherei este quarto com tuas flores favoritas, quero que esteja feliz. Fico contente, apenas de saber que tu ainda habitas este plano. Demore o tanto que for, sei que um dia você abrirá teus olhos e sussurrará: Disse que jamais iria te abandonar, querido. 

quarta-feira, 9 de março de 2011

A Morte Quis Dançar

O som ecoa pelo salão, a melodia daquele piano põe corpos em movimentos, eles se divertem, trocam de parceiros, dão risadas, estão felizes juntos de seus amigos, mal sabem o que está prestes a acontecer. Ao decorrer dos clássicos dançantes, ouve-se um estrondo. Gritos abafados são soltos no silêncio que agora se encontra o belo salão, o pânico toma o lugar da inocência nos corações burgueses. Em tempos de guerra, a morte é sua única companheira. Ouve-se um estrondo, vê-se um clarão,  a morte quis dançar. 

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Pesadelo

 Rezei minhas orações noturnas e mesmo não sendo um homem religioso, acreditava no poder delas. Era uma noite abafada e estava cansando, mesmo não tendo feito nada. Acho que este cansaço era na verdade, vontade. Vontade de uma vida melhor e foi com esse pensamento que adormeci sob as estrelas. Acordei assustado, soando frio e o nada preenchia tudo a minha volta. Levantei, vagarosamente, tentando entender o que estava acontecendo e não conseguia chegar a uma conclusão. Nada fazia sentido, não compreendia o nada. Comecei a me sentir, talvez pela primeira vez, assustado. Desde pequeno conheço o significado de perda, então fiquei imune ao medo. Mas agora era diferente, estava apavorado e instintivamente comecei a correr o mais rápido que conseguia, estava aterrorizado. Todos meus pesadelos me perseguiam em um mesmo sonho, estava caindo num abismo. Perda, dor, solidão. Tudo intensificado. Queria acordar. Mas como acordar da realidade?